ÍNDIA Munbai
Viajar pela Índia é se deslumbrar com mulheres de
sáris e cabelos enfeitados com jasmim. É topar com uma diminuta capela
multicolorida e adornada com imagens numa esquina onde foi feita uma puja
(oferenda). É visitar um templo jain que resplandece de tão limpo. É
viajar de avião numa poltrona vizinha à de um sadhu (homem santo)
descalço, sem camisa e enrolado em um pano que faz as vezes de manto.
Ao pisar em solo indiano, esqueça a lógica que
norteia o mundo ocidental. Com 1,03 bilhão de habitantes, 25 línguas
oficiais, 4,5 mil anos de civilização e 330 milhões de deuses apenas no
hinduísmo, não é possível para um turista querer encarar a Índia da
mesma forma que um país europeu ou até mesmo asiático, como o Japão. A
pobreza convive com uma opulência sem limites de palácios e hotéis de
luxo.
Nos mercados, quinquilharias chinesas disputam espaço
com tecidos de seda e pashmina (lã de cabra do Himalaia) que custam
algumas centenas de dólares. O país da ahimsa (a disciplina da
não-violência) vive em prontidão militar e às vezes é surpreendido
por ataques terroristas. Não é preciso mais que uma conversa rápida com
um indiano que professa a fé hindu para perceber ressentimentos com os
compatriotas de origem muçulmana. A recíproca também é verdadeira.
Nos últimos anos, a sociedade indiana se abriu para o
mundo. Brotaram pelas metrópoles centros comerciais, prédios revestidos
de alumínio e vidro, cafés no estilo Starbucks e lojas de grife. Mas
esse é um fenômeno superficial. Por baixo da casca de modernidade das
grandes cidades e dos jovens que trabalham no setor de tecnologia de
informação, ainda há um povo com tradições arraigadas, princípios
religiosos seguidos à risca e um sistema de castas que resiste aos
séculos. Nas ruas, é possível ver os dalits (antes chamados
intocáveis) fazendo todo o tipo de serviço que os membros de outras
castas se recusam.
Em um país tão caótico e diverso não é preciso ir
além dos limites das grandes cidades para se perceber a dimensão do
gigantesco quebra-cabeças indiano. Lugares como Agra, Varanasi e Jaipur
são obrigatórios, mas Délhi, Mumbai, Chennai e Bangalore têm
atrações de sobra para mostrar o quanto a Índia é complexa e
intrigante. E a primeira regra para um turista que desembarca por lá é
entender que uma cidade, um prédio e mesmo uma rua podem ser chamados por
nomes diferentes.
A metrópole colonial dos ingleses teve seu nome
original, Mumbai, trocado por outro em homenagem a uma deusa, Mumbai, há
cerca de dez anos. O mesmo aconteceu com Madras, que virou Chennai. Até a
Calcutá, de Madre Teresa, também foi varrida por um furor nacionalista e
virou Kolkata.
A questão é que os nomes novos e os antigos
sobrevivem lado a lado. Cada um chama do nome que mais gosta. O mesmo
acontece com ruas, prédios públicos e museus. Deu de cara com uma placa
onde está escrito Chhatrapati Shivaji Maharaj Vastu Sangrahalay? É o
novo nome do Prince of Wales Museum, de Mumbai, ou melhor, Mumbai.